2. Desenvolvimento
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A. Na Lírica - redondilhas
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A mulher mitificada das Redondilhas
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Se Helena apartar
Do campo seus olhos,
Nascerão abrolhos.
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A verdura amena,
Gados que paceis,
Sabei que a deveis
Aos olhos de Helena.
Os ventos serena,
Faz flores de abrolhos
O ar de seus olhos.
Faz serras floridas,
Faz claras as fontes...
Se isto faz nos montes,
Que fará nas vidas?
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Trá-las suspendidas
Como ervas em molhos,
Na luz de seus olhos.
Os corações prende
Com graça inumana.
De cada pestana
Ua alma lhe pende.
Amor se lhe rende
E, posto em giolhos,
Pasma nos seus olhos.
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Verdes são os campo,
Da cor do limão.
Assim são os olhos
Do meu coração.
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Campo que te estendes
Com verdura bela...
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes....
De ervas vos mantendes,
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
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Gados que paceis,
Co contentamento,
Vosso mantimento,
Não no entendeis.
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
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Um retrato mais realista
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Endechas à Bárbara Escrava
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Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.
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Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
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Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
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Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
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Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo,
E, pois nela vivo,
É força que viva.
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B. Na Lírica – sonetos
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Um soneto com um retrato em tom platónico, desmaterializado
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Um mover de olhos, brando e piedoso
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;
Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;
Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento:
Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.
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Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se d'uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio
Que d'uns e d'outros olhos derivadas
S'acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.
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Quando de minhas mágoas a comprida
Maginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquela alma me aparece
Que para mim foi sonho nesta vida.
Lá nüa soïdade, onde estendida
A vista pelo campo desfalece,
Corro par'ela; e ela então parece
Que mais de mim se alonga, compelida.
Brado: não me fujais, sombra benina!
Ela (os olhos em mim cum brando pejo,
Como quem diz que já não pode ser),
Torna a fugir-me; e eu, gritando: Dina...
Antes que diga mene, acordo e vejo
Que nem um breve engano posso ter.
As éclogas 2 e 3: procurar.
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