quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Se Helena apartar

Se Helena apartar

Do campo seus olhos,

Nascerão abrolhos.

.

A verdura amena,

Gados que paceis,

Sabei que a deveis

Aos olhos de Helena.

Os ventos serena,

Faz flores de abrolhos

O ar de seus olhos.

Faz serras floridas,

Faz claras as fontes...

Se isto faz nos montes,

Que fará nas vidas?

.

Trá-las suspendidas

Como ervas em molhos,

Na luz de seus olhos.

Os corações prende

Com graça inumana;

De cada pestana

Ua alma lhe pende.

Amor se lhe rende

E, posto em giolhos,

Pasma nos seus olhos.

.

Neste poema, Helena é uma mulher extraordinária. Ele parece começar onde acabam os “Verdes são os campos”, quando a jovem de lá já criava a erva que os gado comiam. O cenário bucólico é comum aos dois.

Notar o que há de atitude “poética” na confidência com a natureza.

O verso central das glosas divide o vilancete em duas partes. As magias anteriores, fá-las a jovem nos montes; o que se segue responde à pergunta: “que fará nas vidas?”

Se tomarmos a primeira parte em sentido mais ou menos denotativo, Helena é, pelo feitiço do seu olhar, aparentada com Orfeu, o poeta que com o seu canto levava atrás de si a natureza. Não será porém impossível tentar ler esses versos em sentido alegórico: verdura, gados, ventos, flores, serras, fontes, montes, falar-nos-iam do amor, da emoção, do gozo, do enamoramento produzidos pela presença de Helena entre os seus admiradores.

Neste caso, a segunda parte diria, em linguagem menos poeticamente cifrada, o que já estava dito na primeira. O feitiço do olhar da jovem mantinha-se igualmente activo.

O vilancete surge carregado de subtilezas, enigmático, em afirmações paradoxais – todo ele é paradoxal.

Atenção às hipérboles (haverá no poema alguma afirmação que não seja hiperbólica?), anástrofes, apóstrofes, anáfora, interrogação retórica... muitas imagens...

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